Passou os tempos em que a TV Record se engrandecia por defender o respeito e a boa conduta em sua programação. Quem não se lembra dos ataques dos telejornais da emissora sobre as novelas provocantes da rival Globo? Quem não se lembra dos sermões dos Bispos do “Fala Que Eu Te Escuto” evocando o nome de Deus e fixando a imagem da concorrente a promiscuidade e libidinagem em plenas madrugadas do canal? Pois é, tempos que passaram, e tudo indica que não voltam mais.
Hoje em dia, apesar de ter no seu comando pessoas evangélicas e principalmente por seu dono ser Edir Macedo fundador da Igreja Universal, a emissora deixou de lado uma postura conservadora que caracterizava sua essência para apostar no segmento bem mais ousado, e põe ousado nisso.
Novelas provocantes, com cenas pra lá de sensuais passaram a ser figurinhas carimbadas na tela da emissora. Seriados e minisséries que incitam a violência passaram a ganhar espaço na grade do canal devido aos expressivos números alçados. O jornalismo que antes relutava por um diferencial de qualidade, agora se dá por satisfeito por fazer plantão sobre os cadáveres. A notícia estreitada no mais chocante viés toma conta com força dos programas do gênero. O que antes era obrigado a se esquivar, hoje passou a ser a cartilha seguida. O qualificado virou sensacionalista.
Alguns anos atrás seriam excomungados quem sequer especulasse sobre programas de um gênero mais mundano na grade. Tudo bem, alguns falarão que a emissora é um veículo de comunicação independente e não deve em momento algum comportar-se a maneira e bel prazer da Igreja do seu proprietário. Mas, não entendo. A luta antes proclamada pelos executivos da emissora não era combater exatamente essa pederastia presente nas demais emissoras? Pois é, ficou pra trás, sepultado a sete palmos abaixo da terra.
Se algum telespectador conservador tinha esperança desse quadro se reverter frutou-se por definitivo. A estreia de “A Fazenda” jogou uma pá de cal nas chances dos mais contidos. A terceira edição do reality rural que estreou no último dia 28 veio com força total. Bem mais provocativo do que nas duas primeiras edições, a roça mais vigiada do país trouxe um seleto grupo de participantes com a nítida e única intenção de causar. E vem conseguindo.
Abusando dos recursos da era HD e 3D, a emissora vem apostando em closes quase que genitais das beldades que alegram o ambiente. Sem contar no enquadramento durante os banhos de sol dos homens e as trocas de roupas dos competidores. Sem esquecer os banhos que viraram quase uma sessão privé graças à “boa” edição da equipe do programa.
Não, não estamos citando uma atração da Globo, tampouco da RedeTV, conhecidas por abusarem do recurso em questão, e sim da recatada Record. A vida é feita de ciclos, alguns se encerram outros se iniciam, é a ordem universal das coisas, sem intenção do trocadilho maldito, claro.
Mas que é estranho é, atípico no mínimo. Vê a Record entregar-se as coisas “boas” da vida, sendo que antes insistentemente as combatia. No mais, é aquela beata recatada que antes relutava e hoje se entrega com vontade e gosto e vai de forma fatal ao combate.
Quem diria. Com fama de santinha e recatada, Record aos poucos mostra a piriguete que tem dentro de si.
Por João Paulo Dell’Santo
RD1 Audiência
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